sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Borderline

Acordei…
Senti uma grande energia e levantei-me da cama…
Corri para o telefone, mas não tinha uma chamada tua, desatei a chorar, embrulhei-me nos lençóis de cetim, agarrei-me à almofada e adormeci assim com os meus conflitos… como pudeste não ligar?
Senti uma claridade imensa na cara, abri os olhos e percebi que o sol já ia alto. Tentei ligar-te, mas não atendeste, de novo alguém que me magoa! Um dia depois e já me tratas assim? Ninguém me pode tratar assim…não percebes? Não podes dizer que não, não me podes tratar com indiferença…
Olhei-me ao espelho e num impulso parti-o…saltaram estilhaços por cima de mim, alguns arranharam a minha pele, mas não senti dor.
Agarrei num fragmento partido e quis senti-lo em mim…num acto de raiva por esta indiferença, passei-o pelo meu pulso.
Comecei a ver o rio de sangue correr pelo meu braço, não senti dor, só vontade de continuar a sentir este pedaço a abrir caminho pela minha pele. O chão da casa de banho ficou salpicado pela dança inconsciente destas pulsões…
Resolvi vestir o vestido vermelho, justo, decotado, decerto que ias olhar para mim assim!
Uma alegria atravessou o meu corpo e fui ao teu trabalho…
Olhaste para mim e sorriste… como foi bom ver esse sorriso! Eu bem disse que olharias para mim!
Mas logo depois viste o meu pulso, afastaste-te, nem me quiseste tocar. Expliquei que fiz aquilo por ti, mas não quiseste ouvir, chamaste-me louca, puseste-me fora do escritório!
- Eu mato-me se me deixares!
Mas tu nem ligaste! Continuaste dizendo que precisava de um psiquiatra. Eu não sou louca!
- Não me podes tratar assim! Não tratas! Não podes!
Saí dali com uma raiva do tamanho do mundo, passei pelo bar e depois de muito whisky em cima decidi visitar o consultório da psicóloga que me seguia, afinal tinha consulta no dia seguinte, ela iria gostar de saber o que é que aquele crápula me tinha feito, ia gostar de saber que me tinha conhecido no dia anterior e que já me tinha largado!
Disse que não me atendia, disse que não tinha tempo para mim naquele dia, disse que estava ocupada…
- Nem à sala de espera veio para me dizer tudo na cara! Mandou a recepcionista! Como pode? Ela vai ter de me atender hoje!
Agarrei na primeira coisa que tinha à mão, com a minha chave comecei a tentar cortar a pele da palma da minha mão…Fiz cada vez mais força e consegui, vi o sangue sair pelo pequeno furo que fiz, furo que tentei alargar… a recepcionista, atónita, chamou-a…
- Eu não disse que ela me ia atender?
Mas não atendeu, mandou-me embora…
Tinha vontade de lhe mostrar que era capaz de me matar, ela ia sofrer ao ver que era a culpada!
A dor não me consumia, mas o sangue continuava a cair, resolvi lavar a minha mão para evitar o afastamento das pessoas que me viam na rua…
Tonta do sangue perdido e do álcool que tinha consumido, aproximei-me do rio e mergulhei a mão.
Num momento estava ali, no outro estava dentro de água sem perceber como tinha caído!
Não sabia nadar e as últimas forças que tinha foram gastas…tentei lutar contra a água que entrava pelas minhas narinas, pela minha boca…não consegui…
Sem ninguém para ver, matei-me sem querer…



Desfragmentada, inconstante, emocionalmente instável, sentimento de vazio...Personalidade limite

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