Andei perdida durante alguns meses, procurando um lugar onde me pudesse encontrar, onde me sentisse bem comigo própria e com a solidão que carregava a minha bagagem. Ia de terra em terra, apanhando sucessivos comboios, viajando até ao final da linha. As insónias eram constantes, gostava de sentir o stress vindo do rodopiar de pessoas que me rodeavam, aquele entra e sai constante, e o tempo a passar, passava horas a olhar para o relógio, vendo o ponteiro dos segundos rodar, ouvindo o tic tac, e as pessoas, essas nem reparavam quando as analisava, estavam tão concentradas nas sua vidas, nos seus problemas. Não viam os meus olhares, não havia bom-dia nem boa-tarde, não havia simpatia, não havia a preocupação nem o espírito de entre ajuda. Um dia vi uma idosa subir os degraus do comboio com muita dificuldade, ninguém se mexeu, ninguém se aproximou oferecendo ajuda, estava todos demasiados ocupados pensando na sua vida medíocre para ajudar…foi nesse momento que me levantei, puxei agarrei no braço da senhora e pousei-o sobre o meu ombro, auxiliei-a e sentei-a junto de mim. Também estava só e tinha um coração tão grande que me apaixonei pelas suas palavras. Pertencia a uma família de pescadores, morava junto ao mar num pequeno bairro, agora quase deserto, e quando me convidou a ficar com ela, não olhei para trás. Sentia-me bem ali, e sentia falta do afecto dos meus avós, afecto que tinha encontrado de novo ao lado desta maravilhosa mulher, cheia de força, de amor.
Acolheu-me…ficava sentada na cadeira de baloiço no alpendre da velha casa de madeira, ficava a ver as ondas, as estrelas e o luar, o luar que nas cidades era impossível de visualizar daquela maneira…sentia-me tão bem!
Aquela paz interior fez encontrar-me, fez-me seguir em frente, comecei a escolher aquele local para colocar as minhas leituras em ordem e acabei comprando aquelas casas abandonadas, iniciei a sua restauração e mantive-me ocupada durante vários anos. A divulgação fez com que o turismo voltasse aquela região e as casas ano após ano eram alugadas, devolvi a vida aquele lugar tão belo.
Era final do verão, a praia agora era deserta e do alpendre deu-me uma vontade de me lavar de pensamentos negativos, de limpar a minha alma de angústias e de abrir o meu coração. Corri para o mar, e num mergulho que parecia não ter fim, removi todas as preocupações que me assolavam e fiquei ali sentada à beira mar comtemplando toda a paisagem envolvente. Vi um vulto aproximar-se, alto, forte, amoroso e afectuoso que me envolveu nos seus braços, um abraço sem fim… senti-me segura, confiante e tão completa.
Limpa de toda a maldade aceitei-o na minha vida, e ele permaneceu ao meu lado todo o tempo, apoiou-me nos meus projectos, e trouxe a bata branca e o vestido vermelho que há tantos anos tinha guardado. Quando cheguei a casa, estava lá uma mulher, linda, com aquele rosto de menina…na minha sala tinha o piano branco e o cavalete e a tela estavam no alpendre para recomeçar a vida que tinha deixado.
Agora sim sou feliz...os meus pais tinham voltado, e voltaram para ficar…
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